DOS YORÙBÁ AO CANDOMBLÉ KÉTU
ORIGENS, TRADIÇÕES E CONTINUIDADE
Os Capítulos
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1º Capítulo
Èsù Òta Òrìsà: Um Estudo de Oríkì
Luiz L. Marins 1
Introdução
O objetivo deste texto é fazer um estudo sobre este polêmico oríkì, traduzido para o inglês e depois para o português como “Exu, o inimigo dos Orixás”. Este oríkì, em uma de suas versões, possivelmente serviu como base para o título do livro Exu, o Inimigo Invisível do Homem, o qual também fará parte de nossa pesquisa.
Este texto acompanha suas publicações em língua inglesa e portuguesa, mostrando as traduções, versões e equívocos deste oríkì. Pretendemos, com isso, apresentar outra versão, em que Èsù não é “o inimigo dos Orixás”, nem “o inimigo invisível do homem”, e sim um “Orixá Vencedor”.
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1. Pesquisador da religião dos Orixás e da afro-brasileira; iniciado no rito do batuque do Rio Grande do Sul.
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2º Capítulo
Òsóòsì e Èsù, os Òrìsà Alákétu
Na Tradição Religiosa do Candomblé – De Origem Yorùbá
– E em sua Continuidade na Chamada Descendência Kétu no Brasil.
Aulo Barretti Filho 1
Introdução
Nos candomblés ditos de nação Kétu, de origem étnica Yorùbá, o Òrìsà Òsóòsì, o senhor da caça e dos caçadores, é revivido, reverenciado e aclamado como “Oba Alákétu, Rei e Senhor de Kétu e dos Kétu”: rei do “Candomblé” Kétu. Nessa mesma nação, o Òrìsà Èsù, principal comunicador, “articulador” e “transformador” de todo o sistema religioso yorùbá e do candomblé, ganha ainda maior notoriedade quando é agraciado, saudado e cultuado como Èsù Alákétu, Rei em Ilé-Kétu.
Esses Òrìsà tornam-se identificadores indiscutíveis da nação Kétu e possuem em comum o titulo real Alákétu.
Partindo dessa afirmação, analisando textos e saudações sobre o tema, surgiram reflexões e questões inquietantes. Por que esses fatos extremamente importantes e conhecidos por religiosos, intelectuais e acadêmicos foram tão pouco explorados?
Esse registro, que contêm ideias recônditas em dois textos precedentes, respectivamente sobre os Òrìsà Òsòòsì e Èsù, procura dividir todas essas reflexões, considerações e conclusões sobre a questão dos Alákétu.
Para o acompanhamento dessas reflexões, é fundamental a colocação do cenário: o histórico da formação do povo e da nação Kétu em sua origem e no Brasil, para uma melhor compreensão das individualidades desses dois Òrìsà: Èsù e Òsóòsì – que intitulamos Òrìsà Alákétu, que, além de seus valores naturais, revelam-se como poderosos identificadores da nação Kétu e de fundamental importância para a continuidade do candomblé Kétu.
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1. Pesquisador, escritor e professor da religião tradicional Yorùbá e da afrodescendente. Bàbálórìsà do candomblé Ilé Àse Ode Kitálesi (em São Paulo, Brasil) e Asojú Oba Alákétu (em Kétu, no Benim).
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3º Capítulo
Xangô, Rei de Oió
Reginaldo Prandi 1 e Armando Vallado 2
O Obá Xangô
Obá é palavra da língua iorubá que designa rei. Obá é também um dos epítetos do orixá Xangô (não confundir Obá, rei, soberano [oba], com o orixá Obá [Òbà], que é uma das esposas de Xangô). Segundo a mitologia, Xangô teria sido o quarto rei da cidade de Oió, o mais poderoso dos impérios iorubás. Depois de sua morte, Xangô foi divinizado, como era comum acontecer com os grandes reis e herois daquele tempo e lugar, e seu culto passou a ser o mais importante de sua cidade, a ponto de o rei de Oió, a partir daí, ser o seu primeiro sacerdote.
Não existem registros históricos da vida de Xangô na Terra, pois os povos africanos tradicionais não conheciam a escrita, mas o conhecimento do passado pode ser buscado nos mitos, transmitidos oralmente de geração a geração. Assim, a mitologia nos conta a história de Xangô, que começa com o surgimento dos povos iorubás e sua primeira capital, Ilê-Ifé, fala da fundação de Oió e narra os momentos cruciais da vida de Xangô.
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1. Professor Titular de Sociologia da Universidade de São Paulo.
2. Mestre e Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo. Babalorixá do candomblé Casa das Águas.
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4º Capítulo
O Imaginário Mitológico na Religião dos Orixás
Um Estudo da Dinâmica da Comunicação e da Arte no Sistema Cultural Nagô
Roberval Falojutogun Marinho 1
Introdução
O sistema dinâmico de criação de mitos filosóficos, explicativos e contextuais, relacionados a um fato ou evento ocorrido em determinada época em uma cultura ágrafa, para não ser esquecido, termina por ser incorporado à mitologia regional, perdendo sua temporalidade e, nessa dimensão do imaginário, fundem-se todas as ficções, mesmo com seus antagonismos.
Sabe-se que tais mitos, mesmo quando não conciliáveis entre si, acabam sendo vivenciados sem conflitos, quando por imposição histórico-social são obrigados a conviveram em um mesmo círculo religioso, pois através da reimaginação mitológica da cultura ágrafa, forma-se a dinâmica do movimento, adaptação e alegria do mito em suas variantes locais, buscando, de forma popular e sem os rigores da academia, formar a oralidade básica e religiosa do templo do Orixá local.
Porém, na contramão, apesar de “moderna e futurista”, está a cultura gráfica, acadêmica e científica, porém estática, sem movimento, sem alegria; assim, a mitologia que vamos apresentar neste capítulo não traz em seu corpo o rigor acadêmico, muito ao contrário, procura mostrar a dinâmica do mito no imaginário mitológico popular, contado de maneira livre, na alegria do dia-a-dia do povo de santo.
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1. Professor e pesquisador da Universidade Católica de Brasília. Ogã do Ilê Axé Opô Afonjá.
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5º Capítulo
Sincretismo ou Antissssincretismo?
Aspectos Políticos e Religiosos da Construção de uma
Identidade Negra na Diáspora
Josildeth Gomes Consorte 1
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O Manifesto das ialorixás baianas contra o sincretismo, dado a público em 29 de julho de 1983, logo após a realização da II Conferência Mundial da Tradição Orixá e Cultura (Controc), não apenas reabriu a então quase centenária e amortecida discussão sobre o tema como injetou-lhe grande vigor ao colocá-la num novo patamar.
O debate, até então restrito à academia e à Igreja Católica, contava agora com novos interlocutores. Nada menos que lideranças sacerdotais das mais expressivas dos acusados de tão incômoda prática, as ialorixás do Gantois, do Ilê Axé Opô Afonjá, da Casa Branca, do Bogum e do Alaketu.
Para a baiana, nascida e criada em Salvador, longe dos terreiros, o conhecimento do fato extraordinário foi motivo de imensa surpresa. Para a antropóloga, estudiosa da religião e da presença do negro na sociedade brasileira, uma oportunidade ímpar de aprofundar o conhecimento do fenômeno, não só através do olhar de seus praticantes como dos desdobramentos que certamente iria acarretar.
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1. Professora Titular do Departamento de Antropologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
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6º Capítulo
Pierre Verger e Fatumbi:
Uma Dupla Identidade
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Claude Lepine 1
Introdução
Pierre Verger parece representar um exemplo bem-sucedido do pesquisador integrado e tornado “de dentro”. Aceito, iniciado, considerado autoridade em assuntos de candomblé, Verger atingiu o mais alto grau na hierarquia sacerdotal da religião dos iorubá e do candomblé; iniciado nos mistérios do culto aos orixás e do oráculo de Ifá, adquiriu nova identidade, a do babalaô Fatumbi.
Meio século dedicado ao estudo da religião dos orixás e voduns, a vivência do cotidiano do Ilê Axé Opô Afonjá, a confiança de Mãe Senhora, sua aparentemente bem sucedida mudança de identidade, autorizam-nos a acreditar que Verger pôde identificar-se com os adeptos do candomblé, absorver sua visão de mundo, suas crenças, seus valores.
Nosso objetivo é discutir essa hipótese e analisar os pressupostos teóricos, metodológicos e ideológicos subjacentes em algumas de suas obras, em particular: Orixás (1981) e Notas (1998).
Procuraremos interpretar a produção de Verger à luz de sua trajetória de vida e do contexto social, político e cultural em que viveu, principalmente no período dos anos 1930 a 1950.
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1. Professora do Departamento de Antropologia da Universidade do Estado de São Paulo (Unesp-Marília).
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7º Capítulo
Segredos do Escrever e o Escrever dos Segredos.
Reflexões sobre a Escrita Etnográfica nas Religiões Afrobrasileiras
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Vagner Gonçalves da Silva 2
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Os pesquisadores das religiões afro-brasileiras enfrentam dilemas específicos, além das dificuldades gerais de transposição da experiência de campo para o texto, pois, ao observar rituais ou obter informações através de entrevistas, formais ou informais, inevitavelmente esbarram em parcelas de um conhecimento considerado, em algum nível secreto. Entretanto, o segredo nessas religiões é menos uma questão de “conteúdo” de informações específicas e mais de controle do acesso dos religiosos aos fragmentos dos conhecimentos litúrgicos com os quais se pode sistematizar o corpus religioso de uma forma mais legítima. Ou seja, o segredo opera como uma estrutura de termos de significação variável que se definem por oposição e contraste, em meio às relações de poder e concorrência existentes entre os membros dos grupos religiosos e destes entre si. Por isso, o conhecimento nestas religiões enfatiza sobretudo os contextos perfomáticos da fala: quem fala, para quem se fala, o que, quando e onde se fala etc. E utilizar os discursos dos religiosos (que contém “segredos”) na produção das etnografias desconsiderando as complexas relações contextuais em que foram produzidos pode levar o etnógrafo a produzir reificações dos conteúdos desses discursos.
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2. Professor do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo (USP).
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Divulgação: Livraria da Edusp – Editora da Universidade de São Paulo